Fernanda Montenegro lê um trecho de “Um Sopro de Vida” de Clarice Lispector.
No texto em questão, estamos no fluxo de consciência de Ângela, personagem que usa também o monólogo interior – e sua radicalização – para costurar o debate poético com seu criador: o personagem Autor.
“ÂNGELA – Eu mal entrei em mim e assustada já quero sair. Eu descubro que estou além da voracidade. Sou um ímpeto partido no meio. Mas de vez em quando vou para um impessoal hotel, sozinha, sem nada o que fazer, para ficar nua e sem função. Pensar é ter função? Ao pensar verdadeiramente eu me esvazio.”
Perceba que Ângela faz associações líricas e profundamente existencialistas dentro do seu fluxo de pensamento e reflexão. Dentro da sua própria mente a personagem discute o ato de pensar, e associa o fato de não pensar à nudez, ao despimento de uma suposta função. A metáfora do “impessoal hotel” é um recurso imagético muito bem pensado, em que Clarice nomeia um estado psíquico da personagem usando uma imagem concreta, a qual o(a) leitor(a) pode se apegar e ser conduzido(a) ao longo desse fluxo de conjecturas e ideias.