Partindo de uma música
Crie, mentalmente, uma história a partir da música apresentada, e escreva um parágrafo dessa narrativa utilizando os recursos do fluxo de consciência.
Exemplo:
Eu olho pra ela, sentada na beira da cama. Olhar distante, vago; silencioso, exceto pelo som baixo da chuva, avisando que o outono chega como um ratinho disfarçado, fingindo procurar comida, mas, na verdade, procura abrigo. Abrigo que acolhe, mas não a acolheu. Não a acolhi. Seria diferente se eu tivesse sido diferente? Observo ela da porta, quase tão distante quanto se pode ser. Devo dizer algo ou apenas ficar aqui? Imóvel. Uma estátua é uma escultura que representa história. Não represento nada. Tantas vezes tentei consertar a tristeza dela com palavras — vi tudo escorrer por entre os dedos, como geleia fora do ponto; a gelatina que não deu certo. E nunca dá certo. Se tudo continuar desse jeito, posso desmoronar, como uma estátua quebradiça que não sustenta o próprio peso. Que peso! Eu apenas revidei. Ela se vira, paraliso. Ela sabe que eu sei, e ainda que sua boca não se mexa, e sua voz não saia, ela diz que me vê. Me viu enquanto eu não via. Estou exausto e choro. Não em soluços, não em desespero — mas em protesto. Se ela tivesse me contado, essa muralha gigantesca e efusiva talvez não existisse aqui, agora. Agora? Entre a porta e a beirada da cama existe um abismo feroz. Somos duas vertentes quebradiças, nulas, que se procuraram em outros enredos, mas se acharam individuais. Minha atitude também chocou a linha de aço; e as linhas do tricô da minha mãe se desmancham nessa casa minha. A minha estátua percebe a estátua dela, e vejo: não sustentamos o peso do relógio, que se desgastou entre os segredos e as revanches.